RAIO-X com André Silva

Apresentamos mais um RAIO-X Road Crew, desta vez com o baterista André Silva. Endorser das marcas Remo e Zildjian, faz parte da nova geração de bateristas portugueses, sendo já uma promessa mais do que confirmada.

Um músico versátil, humilde e virtuoso, a energia é uma das suas características quando toca bateria.

Fica a conhecer melhor o André Silva e o que faz dele um dos melhores bateristas nacionais.

Road Crew – Quando é que começaste a tocar e porquê que escolheste este instrumento?
André Silva – Comecei a tocar quando tinha 2 ou 3 anos por influência do meu pai e dos meus irmãos. O meu pai era professor de música tinha um “conjunto” como era muitas vezes designado na altura, chamava-se Pop Five e então havia muitos instrumentos lá em casa. A bateria acho que foi naturalmente amor à primeira vista. Eu próprio criava as minhas baterias com copos de iogurte para ter uma data de timbalões, acho que sempre sonhei muito 🙂 .

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RC – Estudaste no estrangeiro. O que é que te levou a complementar a tua formação lá fora? Em que escolas estudas-te cá?
AS – Sinto-me abençoado por todas as pessoas que ao longo do tempo me apareceram na vida, outras que eu procurei mas todas elas sinto que foram parte super importante de todo o meu percurso. Comecei a tocar sozinho (com umas “luzes” do meu pai), o que me fez passar muito tempo com a bateria e gostar verdadeiramente dela. Depois quando tinha 13 anos tive o primeiro professor, Luís Nobre, que me ensinava coisas tão simples e tão incríveis que eu sozinho demoraria anos e anos a descobrir.

no Porto estudei com quem considero um dos melhores professores de bateria e rítmica de todo o mundo, Michael Lauren…

Estudei depois com o Vicky em Viseu, que foi, é, e sempre será uma das minhas maiores influências e um ser humano incrível. Leandro Leonet em Aveiro, tão, mas tão importante para mim. Depois no Porto com um grande amigo, um músico e professor extraordinário Hugo Danin que me ensinou tanto tanto. Também no Porto estudei com quem considero um dos melhores professores de bateria e rítmica de todo o mundo, Michael Lauren. Não há palavras. Estudei ainda com o Mauro Ramos quando vim para Lisboa, uma grande influência para mim que me ajudou imenso a crescer enquanto baterista e músico e muitos outros bateristas incríveis em workshops, dos quais destaco sem dúvida o mestre Alexandre Frazão. Ia a todos os workshops que haviam, sempre quis aprender o máximo possível. Assim sendo, apesar de já estar a trabalhar enquanto músico profissional sempre quis ir estudar numa cidade de sonho, numa escola incrível: Drummers Collective, Nova Iorque. Passei uma longa temporada de 2 anos consecutivos, 2011 e 2012 e vou-vos dizer: foi absolutamente incrível, foi super exaustivo, muito emocional e nunca me esquecerei de nada. Foram muitos professores, muitos amigos, muita muita coisa. Não ia conseguir escrever tudo 🙂 .

RC – Em que é que achas que o ensino de música pode melhorar em Portugal?
AS – Ui.. 🙂 vou ser muito honesto e acho que os tempos mudaram muito nestes últimos 10/15 anos. O nível está muito, mas muito mais alto e isso é incrível mas para mim, a única escola onde estudei foi em Nova Iorque. Sempre tive aulas particulares com todos os nomes que mencionei, ia muito mais direto ao que eu pretendia e tal como já referi que fui abençoado, eles também me faziam seguir caminhos certos.
Não gosto quando sinto que os professores não querem passar informação ou que se tem de obedecer a programas nada inovadores, lentos e muitas vezes sem razão de ser. Acho fundamental tudo ser muito bem explicado, não serem dados passos em falso ou falsear resultados 🙂 mas cada aluno tem um nível e uma evolução no instrumento, e o que pretendo hoje é o que me fizeram a mim, incentivar, ensinar, procurar o melhor que se tem para dar.

RC – Quanto vezes já tocaste na Meo Arena? Qual foi a maior audiência?
AS – Felizmente já toquei várias vezes na Meo Arena, assim como outras salas incríveis do nosso país. A maior de todas foi em Dezembro de 2014 com Anselmo Ralph, cerca de 20000 pessoas. O DVD quase que saiu 🙂 .

Sinto cada concerto especial, seja para 5 ou 20000 pessoas, a energia tem de ser a mesma.

RC – Como músico, preferes o trabalho de estúdio ou tocar ao vivo? Há para ti, pontos mais positivos ou negativos em cada uma destas facetas de um baterista profissional?
AS – Adoro tanto um como o outro, honestamente. Apesar de serem tão diferentes mas são tão especiais. Sinto cada concerto especial, seja para 5 ou 20000 pessoas, a energia tem de ser a mesma. Não é apenas uma frase feita, é a realidade. Ao vivo estamos sujeitos a muitos factores que podem acontecer no momento, que dependem ou não de nós. É um desafio incrível e emocionante.
O estúdio se formos a pensar bem, estamos a criar, a gravar uma obra que vai existir e permanecer viva para sempre.
Na grande maioria das vezes acaba por se tocar em estúdio de uma forma muito diferente do que ao vivo, apesar de haver pontos em comum. Destaco  4 características: precisão, concentração, musicalidade e energia.

RC – Tocas e colaboras em muitos projectos. Alguma novidade para breve?
AS – Sim!! Muitas novidades para breve!! Não posso ainda dizer muito mas essencialmente sinto que será útil, serei útil para ensinar, para incentivar e retribuir acima de tudo todo o carinho que as pessoas têm tido para comigo!!

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RC – Além da carreira como músico, apostas no trabalho como produtor. Achas que isto te influencia como baterista?
AS – Quando estamos a gravar, passamos também a produtores. Umas vezes tocamos o que nos pedem mas outras vezes as ideias que damos passam a ser extremamente relevantes para a versão final da música. Quando tocamos ao vivo, estamos a interpretar da nossa forma, como sentimos determinada música, respiração ou ambiente. Acredito sim que sou produtor e sem dúvida tem uma grande influência enquanto baterista. Crio muitas ideias com as quais pratico e me fazem desenvolver enquanto músico. Ouço muita música e tento perceber qual a intenção da música. Torna-se muito mais simples para quando somos obrigados a atuar na realidade de estúdio ou ao vivo.

É importante experimentar antes de dizer “não” mas também é verdade que é importante descobrir como realmente nos sentimos melhor a tocar.

RC – Tens um setup habitual ou varia muito? Qual é o teu set?
AS – Adoro muito muito mesmo quando tenho o meu setup habitual. Confesso que nestes últimos anos e mais concretamente agora que tenho estado por Londres, percebo que não há nada como o nosso material a que estamos habituados. De repente tem de se tocar numa bateria com medidas diferentes, com alturas diferentes, com bancos de bateria que pertenceram à I Guerra Mundial 🙂 objectivo: temos de nos safar de qualquer forma. É importante ir variando um bocado, assim, vamos estando aptos a tocar de formas diferentes e até explorar ideias novas que de outra forma não surgiriam. É importante experimentar antes de dizer “não” mas também é verdade que é importante descobrir como realmente nos sentimos melhor a tocar.
O meu set vai variando conforme o tipo de música que toco, com quem toco, acaba por ser uma adaptação ao que a música pede ou à nossa visão para determinados estilos e músicas.

RC – Tens uma “arma secreta” no teu setup?
AS – Penso que a energia e a vontade/prazer em tocar são a melhor arma secreta que podemos ter.
Uma outra das armas secretas também não está no setup mas é fundamental: tocar com bons músicos. Isso é uma arma incrível e eu tenho sido privilegiado nisso ao longo desta vida.
Essencialmente acho que a arma secreta no setup será termos o material que responde ao som que queremos e eu toco com baterias DW, peles Remo e os pratos que sou completamente maluco por eles: Zildjian!!

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RC – Conta-nos uma história da tua carreira que nunca te vais esquecer
AS – Nem sei bem. Acho que foram muitas e volta meia volta passamos por várias, umas para rir e outras de ficarmos a pensar na vida 🙂 .
O ano passado no fim de um concerto com o Anselmo, fui aliciado para andar de carrinhos de choque 🙂 correu muito mal naturalmente. O impacto a que se está sujeito especialmente se houver algum descuido é terrível. Senti uma dor na parte de cima da mão, senti que algo se desmanchou por completo e na manhã seguinte acordei com tantas dores que apesar de nunca me ter acontecido na vida, desmaiei na casa de banho e ia partindo as loiças todas, inclusivé a cabeça 🙂 o maior problema estava em que havia concerto nessa noite em Beja e passei o dia quase todo no Hospital. Conclusão: toquei com o pulso todo amarrado, com movimentos à padeiro porque só o braço mexia e não tinha força nenhuma na mão esquerda. Felizmente pratico muitas coisas tocando a tarola na mão direita. O impacto nos pratos é muito mais suave do que tarola e timbalões e lá se fez o concerto. Não foi igual mas deu para safar. Nunca corram riscos desnecessários. Pode acontecer em qualquer altura, é verdade, mas às vezes não é preciso chamar por eles 🙂 .

Quando é uma paixão, vivam-na intensamente…

RC – Por último, um conselho para quem está a começar a tocar.
AS – Não existem limites para sonhar. Não existem idades para começar. Quando é uma paixão, vivam-na intensamente. Toquem o máximo que puderem, pratiquem tanto quanto possam, procurem informação para aprender, vídeos no YouTube, livros, tenham aulas com pessoas com quem se identificam. Aprende-se tão mas tão mais rápido.  “Do your best. Leave everything else to the powers above you”.

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